Notável – Jane Harvey-Berrick

Olá pessoal, assim como em 2021, este ano, a nossa querida Jane Harvey-Berrick está escrevendo contos mensais e disponibilizando em sua newsletter. Pensando em democratizar o acesso, a The Gift Box vai disponibilizar cada um deles aqui no site para vocês.

Notável

Normalmente, não sou uma daquelas pessoas que usa óculos de sol em ambientes internos porque apenas seguranças de boate e celebridades conseguem se safar com eles, mas tive a mãe de todas as ressacas depois de algumas tequilas da noite passada.

Foi culpa da Patty, minha maravilhosa melhor amiga, que teve a grade ideia de “acabar com a tristeza pós-feriado com uma noite das garotas em casa com pizza e shots” — acho que alguma empresa já fez um cartão de presente para isso agora. Mas, principalmente, nós nos empanturramos, porque nenhuma de nós tinha um encontro, de novo. Então a noite das garotas em casa se transformou em uma festa triste para duas, com as já mencionadas doses de tequila, que cantavam um medley de duetos no karaokê muito mal.

O que significava que, agora, luz de qualquer tipo queimava as minhas retinas e fazia minha cabeça latejar, como se alguém estivesse dando marteladas no meu crânio. Que era o motivo de eu estar parada na fila de um fast-food, fazendo um pedido de biscoitos de salsicha, ovo e queijo, de 630 calorias cada, 170 gramas de café puro para levar, e sim — usando óculos escuros.

— Você deveria ter vergonha de si mesma! — sibilou a mulher por trás de mim, o que parecia um pouquinho duro.

Minha ingestão calórica era um problema entre mim e minha calça de moletom com elástico.

— Não é tudo para mim — protestei. — Um deles sim, mas os outros são para uma amiga.

Eu estava mentindo: cada uma ficaria com dois para tentar absorver a tequila com uma dose saudável de gordura.

— Você é o tipo de pessoa que faz todas as mulheres ganharem má fama! — disse, erguendo o tom de voz. — Ele é casado!

— Quem? O funcionário da loja?

Espiei sobre o ombro para ver sua careta para mim. Ótimo, eu estava na fila com uma residente estranha.

Tentei ignorá-la e encolhi um pouco os ombros, aliviada por meu pedido ser o próximo. Peguei minha comida e meu café, murmurando um agradecimento ao funcionário, que me encarava boquiaberto. O que deu em todo mundo hoje?

Afastei-me, respirando o delicioso aroma do café fresco, quase babando com a gostosura frita nos biscoitos de salsicha, ovos e queijo, então não estava preparada quando uma louca me empurrou pelas costas.

Tropecei em meus chinelos, derrubando café quente na minha camiseta, meus óculos deslizando para o nariz.

— Ei! — gritei com ela.

Fiquei perplexa de perceber que ela estava com o celular em mãos e, eu juro por Deus, me filmando! E ela não era a única. Dando uma olhada ao redor do fast-food em Inglewood, notei que todas as pessoas lá estavam tirando fotos; nenhuma delas estava me ajudando.

— Ai, meu Deus! — gritou uma adolescente atrás de mim. — É ela! Vocês sabem, aquela que dormiu com o ator estrela do cinema e fez um vídeo pornô!

— Caleb Logan!

— A esposa dele o deixou por causa disso! Greta alguma coisa…

— Greta Saxonby!

— Você quer dizer Greta Sexo Comigo! — um cara no canto sugeriu, rindo. — Ei, garota! Achei que você vivia em Beverly Hills. O que está fazendo por aqui?

Do nada, as pessoas estavam gritando comigo de todas as direções.

— Como o Caleb é na cama?

— É verdade que a esposa do Caleb te chamou de destruidora de lares?

— Perez Hilton disse que você é uma ruiva vadia!

— Você está grávida do Caleb Logan?

Eu estava de ressaca, não tinha inalado minha primeira dose de cafeína e estava cercada por uma multidão enfurecida, empurrando-se na minha direção. Comecei a entrar em pânico e abri caminho pela multidão. Mas eles me seguiram lá para fora, ainda gritando, vindo perto do meu rosto e filmando tudo, me cercando, puxando e empurrando. Derrubei meu café, os biscoitos e corri, perdendo um dos meus chinelos de lantejoulas no processo.

— Ligue o carro! — gritei para Patty.

Eu a vi erguer a cabeça do celular, os olhos se arregalando para a multidão com celulares em vez de forquilhas que me perseguia pelo estacionamento.

— Depressa! — berrei, rezando para que o seu pequeno Toyota não escolhesse este exato momento para quebrar de novo, mas Esmeralda ligou de primeira e eu pulei no banco do carona.

— O que está acontecendo? — Patty esbravejou.

— Dirija! Dirija! Dirija!

Escondi o rosto nas mãos, já que as lanternas dos celulares estavam quase me cegando, e várias pessoas batiam nas janelas e no porta-malas do carro. Patty saiu de lá como se estivesse em uma corrida da NASCAR.

Ela passou por uma placa de pare a oitenta quilômetros por hora e finalmente freou no primeiro sinal vermelho que apareceu. Minhas mãos tremiam tanto, que precisei de três tentativas para prender meu cinto de segurança no lugar. Um policial de moto balançou a cabeça em negação para mim, quando parou ao meu lado. Estava tão assustada pelo que tinha acabado de acontecer que nem liguei.

Patty parecia estar em choque, suas mãos esmagando o volante.

— O que foi aquilo? — sussurrou, com a voz trêmula.

— Eles acharam que eu era uma atriz, Greta alguma coisa. Então todo mundo começou a gritar comigo. Foi assustador pra caramba.

Ela se virou para mim, seus olhos se arregalando.

— Greta Saxonby! Sempre disse que você parecia aquela coisinha magra — disse, sobressaltada. — Só que você é mais bonita.

— Obrigada, eu acho — respondi, balançando a cabeça.

— Por que eles estavam tão chateados com você?

— Alguma coisa sobre Caleb sei lá quem, o ator.

— Espera! Caleb Logan? O Caleb Logan?

— Acho que sim?

— E eles perseguiram você? Por quê?

Neguei com a cabeça, atordoada e definitivamente confusa.

— Você precisa saber! — afirmou, enfática.

Joguei “Greta & Caleb” no Google, arregalando os olhos a cada linha que li; em seguida, gemi.

— Ah, não. Agora eu entendi. Mais ou menos. Greta Saxonby e Caleb Logan fizeram um vídeo de sexo e está em toda a internet.

— Uau, ele está casado há seis meses com aquela cantora country, Donna alguma coisa.

— Pois é! Que babaca.

— Sim, total. E sabe o que mais? É muito injusto que seja a tal da Greta que esteja levando a culpa. Ela é solteira; não foi ela quem ficou balançando o pênis em qualquer um ao seu alcance. Caleb Logan é um cachorro no cio!

Ela estava certa. A mulher solteira nisso tudo, Greta Saxonby, estava levando a culpa, embora Caleb Logan, a estrela do cinema idiota, fosse quem estava casado, quem estava traindo. Outro caso de padrões duplos em Hollywood. O “dois pra lá, dois pra cá” de Washinton era para políticos corruptos; em Los Angeles, era um jogo de culpa em um estado onde os bens do divórcio são divididos meio a meio.

— Ei, onde estão meus biscoitos? — Patty reclamou, jogando os longos dreads por cima dos ombros e estreitando o olhar para mim. — Você sabe que eu preciso de biscoitos iguais os que a minha mãe fazia depois de uma sessão de tequila.

Lancei um olhar a ela que dizia: fui perseguida por uma multidão, quase linchada e perdi meu chinelo favorito, não vou me desculpar pela droga dos seus biscoitos.

— Aff — murmurou, fazendo biquinho.

Depois de dirigir os 6,5km até nosso minúsculo chalé em Westchester, reclamando o tempo todo sobre como ela estava com fome e como precisava de biscoitos caseiros, duas coisas aconteceram: eu estava pronta para matar a minha melhor amiga e as minhas fotos no fast-food­ estavam por todo canto no Instagram e Twitter.

Gemendo, desliguei meu telefone e caminhei até nossa máquina de café anciã, encarando desesperada para o filtro, que já foi reutilizado duas vezes, mas eu definitivamente não enfrentaria o ar livre de novo.

Eu não tinha como saber que o pior estava por vir.

Passamos o restante da manhã em calças de ioga e camisetas largas, assistindo Bridgerton, babando pelo conde de Hastings e rindo do cabelo de Colin Bridgerton.

Quase saí de dentro do meu corpo quando bateram na porta da frente sem parar. Peguei meu taco de beisebol premiado, que foi assinado por Erik Karros, e espiei pelo olho mágico.

— Puta merda! Você olhou para o lado de fora? — sussurrou Patty. — Há vans de notícias lá e um monte de repórteres. Ai, meu Deus! Olha seu telefone!

Enquanto estive vendo TV, a história se tornou viral. Só que, desta vez, as pessoas descobriram meu nome e agora estavam dizendo que eu estava naquele vídeo com Caleb Logan, que Greta Saxonby era uma vítima inocente e eu era uma destruidora de lares que dormiu com um homem casado. Em um espaço de quatro horas, me tornei alguém notável.

— Você tem que soltar um comunicado de imprensa esclarecendo os fatos — opinou Patty.

— Um comunicado de imprensa? Sou barista no Peet’s Coffee Hunt, não a Kim Kardashian! — sussurrei bem, bem baixinho, em um tom estridente.

— Neste momento você é uma tendência bem maior que a Kim. — E me deu um sorriso.

— Você não está ajudando! Estou muito assustada agora!

— Sim, erro meu — admitiu. — Mas não estou brincando sobre o comunicado. Coloque um post no Instagram e no Twitter também. Mas, hm, não leia nenhuma das mensagens e acho que você deveria bloquear os comentários. — Mordeu os lábios, seus olhos escuros brilhando. — Vou ligar para o Diego e o Stanley — avisou, mencionando o irmão e o marido dele. — Vamos precisar de músculos reais para sair da nossa casa hoje.

— Talvez devêssemos apenas ficar aqui e, você sabe, nos escondermos?

Alguém esmurrou a porta dos fundos.

— Vou ligar para a polícia! — gritei. — Esses idiotas estão ultrapassando os limites!

Patty torceu o nariz.

— Tome banho primeiro e passe um pouco de maquiagem. Você quer aparecer bonita no Huff Post.

Odiei que ela estivesse certa.

Estava terminando de secar meu cabelo e vesti meu jeans favorito com uma camiseta bonitinha bem quando Stanley e Diego chegaram, empurrando a multidão do lado de fora. Senti-me um pouco chorosa quando os vi: apesar do fato de eles serem o casal mais foto de todos, foi como ter dois irmãos assustadoramente enormes para cuidar de mim.

— Você sabe causar uma confusão, garota! — Diego disse, me puxando para um abraço. — Como é o Caleb? Tão gostoso quanto nos filmes?

— Está me zoando, né? Você não acha mesmo que fiz um vídeo íntimo com Caleb Logan?

Ele pareceu genuinamente desapontado.

— Tem certeza? — questionou Stanley.

— Caramba, Stan! Acho que eu me lembraria de alguém assim! Todo mundo está me confundindo com a Greta Saxonby.

— Hm, bem, odeio te dizer, mas a Greta Saxonby acabou de soltar um comunicado de imprensa dizendo que o vídeo não era dela e que ela nunca dormiria com um homem casado. Ela basicamente te jogou para os lobos.

Meus joelhos cederam.

— Ai, meu Deus — sussurrei. — Quem vai acreditar em mim agora? Estou passando mal!

— Precisa de uma escolta para o trabalho? — Diego indaga, gentil.

— Você deveria tirar o dia de folga — sugere Patty, esfregando meu ombro. — Ligue para o Maurice e diga a ele que você está se sentindo mal e não pode trabalhar hoje.

Meu estômago embrulhou.

— Acho que farei isso. Não seria uma mentira — afirmo, meus lábios trêmulos.

Levei três tentativas para conseguir falar com meu chefe na Peet’s, porque a linha estava ocupada. Mas quando finalmente me atendeu, ele me demitiu na hora.

— Mas eu não fiz nada! — protestei.

— Há uma cláusula no seu contrato que diz que você não pode fazer nada para causar danos ao nome da empresa — zombou. — Fazer um vídeo íntimo com uma celebridade definitivamente conta; confirmei com nossos advogados. Este é um restaurante de família! — E desligou.

Encarei o telefone em descrença. Em poucas horas, minha vida se despedaçou por um caso de identidade equivocada.

— O que eu faço agora? — perguntei, implorando com os olhos aos meus amigos por uma resposta.

Mas nenhum deles encontrou meu olhar. Eventualmente, Patty respondeu:

— Ainda vale a pena divulgar seu próprio comunicado — disse, suavemente.

— Não vai fazer nenhum bem, agora que Greta Saxonby, a grande mentirosa, também divulgou o seu. — Funguei, bem perto de ir às lágrimas.

Diego apertou minha mão.

— Saia da cidade por alguns dias. Vá visitar seus pais — sugeriu. — Quando você voltar, tudo isso terá morrido.

— Talvez — eu disse, incerta —, mas toda busca na internet a partir de agora será uma loucura e vai conectar meu nome com um vídeo de sexo e uma estrela do cinema babaca. Como isso vai ficar no meu currículo? Ninguém vai acreditar em mim. Ninguém vai me contratar.

— Existe um caminho — Patty comentou, devagar. — Talvez.

Olho para ela, esperança queimando em meu peito.

— O quê? O que é?

— Faça Caleb dizer a verdade.

Minha esperança teve uma morte súbita e trágica.

— Ele nunca fará isso.

Patty mastigou o lábio.

— Pode ser que faça! Ele não tem nada a perder ao dizer a verdade. De fato, se ele tentar ajudar você, isso vai pegar bem para ele. Ah, vai pegar melhor do que a escória traidora que ele já é; ele será escória traidora, mas com um coração. Hollywood é assim, todos adoram um jovem arrependido!

Diego lançou um largo sorriso para a irmã.

— Acho que é uma ótima ideia. Tudo que temos que fazer é ligar para o agente dele. Posso garantir que ele estará pronto para encontrar uma maneira de mudar a história.

A esperança deu uma espiadinha por debaixo de uma nuvem sombria e me disse que poderia funcionar. Talvez. Mas era minha única chance.

— Me dê um dólar — disse Stanley, me encarando.

— Oi? Minha vida está indo pelo ralo e você quer que eu te empreste uma grana? — Bufei.

Ele deu uma risada profunda e estrondosa.

— Eu sou advogado e, se você me pagar um adiantamento, posso te representar.

— Você é advogado fiscal. — Patty riu.

Stanley deu de ombros.

— Vou ligar e dizer que sou advogado da Gemma. Não vai ser mentira. — Sorriu para mim. — E vai ser mais divertido que as leis tributárias.

— Vocês são os melhores. — Solucei, sentindo-me mais feliz, ao mesmo tempo em que estava chorosa. — De verdade, meus melhores amigos do mundo todo.

— Lembre-se disso quando estiver sendo entrevistada pelo Jimmy Kimmel — pediu Patty, sorrindo.

Prendi a respiração enquanto Stanley jogou “agente de Caleb Logan” no Google, então exalei profundamente quando ele foi colocado em espera.

E esperei.

E esperei.

Aí fiz um café para todo mundo e esperei um pouco mais.

Eventualmente, Stanley falou com alguém e acenou. Depois negou, falou sobre processo, negou de novo, esperou mais e finalmente disse:

— Estaremos prontos.

— O que eles disseram?

— Vão mandar um carro para levar a senhorita Gemma Parkinson e seu advogado, moi, para encontrar o agente do Caleb Logan. Melhor se preparar para o jogo, garota!

Stanley bateu a mão na minha e eu gritei em uma mistura de choque, alívio e excitação.

Concordamos em irmos todos, principalmente porque Patty e Diego não queriam ficar presos em casa o dia todo, e porque eu estava muito feliz de ter meus amigos comigo.

Vinte minutos depois, o telefone do Stanley vibrou e ele assentiu.

— O carro está lá fora: óculos escuros, galera. Lembrem-se, não importa o que digam, respondam: sem comentários. Mesmo se questionarem sobre o clima. Certo? Vamos lá!

Assim que Diego abriu a porta da frente, foi como se estivéssemos no estacionamento do fast-food­ de novo, só que dez vezes pior. Repórteres enfiaram microfones enormes e peludos na minha direção e gritaram na minha cara, mas Diego passou o braço pela minha cintura e quase me carregou até a limusine que nos aguardava. Olhei para Patty por cima do ombro e até mesmo seu sorriso animado se desfez com a visão do público e das coisas horríveis que estavam sendo gritadas.

Um segurança enorme abriu a porta e nos enfiou para dentro, dizendo aos jornalistas para se afastarem.

O barulho foi péssimo e horrivelmente intimidante. Como as celebridades de verdade lidavam com isso o tempo todo?

A limusine passou pela multidão com flashes brilhantes das câmeras disparando ao nosso redor feito fogos de artifício. Graças a Deus as janelas eram escuras. Eu ainda estava tremendo no momento que o carro chegou à 405, em direção ao norte.

— Estamos sendo seguidos — Patty comentou, pressionando o rosto na janela.

O motorista olhou pelo retrovisor e pisou fundo, passando pela luz amarela do sinal e deixando os jornalistas furiosos para trás.

— Obrigada! — Engoli em seco com gratidão, e recebi um sorriso.

Saímos da rodovia e seguimos em direção ao Topanga Canyon, passando pelos portões de uma bela casa no estilo de um rancho nas colinas acima da praia. Era menor do que eu esperava de uma estrela de cinema mundialmente famosa, mas ainda era quatro vezes maior que nosso apartamento e tinha uma linda piscina externa em um dos lados.

Quando o motorista abriu minha porta, um enorme cão peludo veio pulando em minha direção, latindo e rosnando. Gritei e tentei voltar para a limusine, mas o cachorro me prendeu no carro e começou a babar por cima de toda a minha maquiagem cuidadosamente aplicada.

— Saia! De cima! De mim! — gaguejei.

— Boss! Desce! — alguém gritou.

Obedientemente, o cachorro tirou as enormes patas de cima dos meus ombros, colocando-as no chão e empurrando o focinho na minha virilha. E então a besta sarnenta ergueu a perna e fez xixi em mim.

Fiquei parada, observando com horror e descrença uma corrente de urina amarela descer pelo meu jeans favorito.

— Boss, não! — berrou o mesmo homem.

Ele veio correndo para frente e agarrou a coleira do cão.

— O que vocês estão fazendo aqui? — esbravejou. — Está é uma propriedade privada!

— Seu Rottweiler acabou de fazer xixi no meu jeans e você está gritando comigo?

— Quem é você? — insistiu, seus olhos cinza e tempestuosos brilhando.

— Gemma Parkinson — disse, baixinho, ainda pingando, com o cachorro tentando me farejar de novo.

— Quem?

Stanley se esticou para fora da limusine, encarando o cachorro com cuidado. Até o motorista voltou para dentro.

— Eu sou o advogado da senhorita Parkinson. Recebemos esse endereço para encontrar o agente de Caleb Logan.

O cara amaldiçoou várias vezes e em sequência, com as palavras “idiota” e “babaca” sendo repetidas, e essas eram apenas as coisas seguras de se pronunciar.

Ele era um colírio para os olhos com seu cabelo castanho ondulado, jeans gastos bem preenchidos e uma camiseta de banda desbotada, mas ainda era um idiota cheio de raiva, e eu não fazia ideia de quem era. Nem tinha se desculpado por seu cão de guarda antissocial.

Foi quando uma Ferrari vermelha passou pelos portões e Caleb Logan desceu do carro.

Olhei para os dois. Ele parecia uma versão mais brilhante e polida do cara com o cachorro.

— Ei, você deve ser a Gemma. Ouvi que tivemos uma noite louca de sexo selvagem juntos! Queria poder me lembrar! — Ele esticou a mão, depois franziu o rosto para o outro homem. — Cara, você consegue sentir cheiro de xixi?

— O que você está fazendo aqui, Caleb? — perguntou o outro homem.

— Este é meu irmão mais velho, Caden. — A estrela de cinema me deu um largo sorriso e meu olhar mudou entre os dois. — Sou a versão mais jovem e bonita.

Apertei sua mão sem força, depois encarei o irmão da estrela. O cabelo deste homem era mais escuro e ele nem tinha o charme famoso e fácil do seu irmão. De fato, ele parecia muito intenso e irritado. Mas eu teria que ser cega para não perceber que ele também era muito gostoso.

— Que ótimo — desafiei, determinada a não dar uma de fã com nenhum deles.

— Sou Stanley Cooper, advogado da senhora Parkinson — ele disse, em uma voz suave, encarando os irmãos com apreciação.

— Esses são meus amigos Patty e Diego — falei, fraquinho, conforme eles desciam da limusine. — Não pude deixá-los em casa, pois está cercada de repórteres.

Caleb apenas piscou para mim, mas seu irmão parecia bravo.

— E você os convidou para a minha casa porque…?

O irmão mais novo deu de ombros.

— Donna me jogou para fora e eu precisava de um lugar privado para este… sei lá.

Caden negou com a cabeça, mas não respondeu. Em vez disso, ele se virou e nos levou pela casa para um pátio particular nos fundos, onde nos sentamos na sombra de três árvores altas.

— Hm… querem água, café? — questionou, colocando as mãos nos bolsos do jeans.

— Os dois — respondi, cansada. — E algum jeans sem xixi, se você tiver.

— Desculpe por isso — murmurou. — Significa que o Boss gosta de você. Ele é muito gentil quando se passa a conhecê-lo. — E me deu um sorriso fraco. — Tenho uma calça de moletom que você pode pegar emprestada.

— Obrigada — suspirei. — Bem quando eu pensei que este dia não pudesse piorar…

Ele me guiou para dentro da casa e sumiu em um cômodo, onde o ouvi abrir as gavetas. Finalmente saiu de lá com uma calça enorme.

— São grandes demais para você, mas são tudo o que eu tenho. — Deu de ombros. — Pode se lavar ali dentro.

No banheiro, eu me limpei o melhor que pude e vesti as calças enormes. Eu parecia uma palhaça e tive que ficar segurando o cós pela mão. Voltei lá para fora, onde todos me esperavam.

— Por favor, sirva-se — Caden pediu, acenando para uma cafeteira e uma jarra de água.

Ele esperou até que todo mundo tomou uma bebida, depois encarou o irmão.

— O que posso fazer por você, senhorita Parkinson? — Caleb perguntou. — Ou posso te chamar de Gemma, já que dormimos juntos?

— Não, não pode! — disparei, meus olhos se estreitando. — Nós não dormimos juntos ou fizemos um vídeo íntimo desprezível, e você não recebeu o direito de me chamar pelo primeiro nome.

Ele parecia completamente surpreso, mas vi que Caden tinha um sorriso no rosto. Olhei para Stanley, que explicou a situação sucintamente e fiquei vermelha quando o vídeo foi mencionado de novo. Senti os olhos cinza-escuros de Caden focados em mim.

— Não era eu no vídeo — comentei, suavemente. — Mas já que Greta Saxonby basicamente disse que era eu, tem sido horrível. As pessoas estão comentando coisas terríveis ao meu respeito, coisas mentirosas. Perdi meu emprego. Meu chefe disse que desrespeitei o Peet’s Coffee.

— Você é barista? — Caden perguntou.

Acenei.

— Não é atriz?

— Não, estou na faculdade.

— O que você estuda?

— Matemática. Quero ser professora.

— Não demorou muito para você conseguir um advogado — Caleb zombou, aparentemente irritado por ter sido excluído da conversa.

Pisquei para ele, surpresa por sua agressão. Ele certamente não estava tentando mais ser charmoso.

— Stanley é marido do Diego, e Diego é irmão da Patty. Patty é minha melhor amiga. Então conseguir um advogado, como você colocou, é apenas os meus amigos me ajudando — afirmo, categórica. — E talvez isso seja apenas mais um dia em La La Land para você, mas esta é a minha vida! Ninguém vai me contratar como professora se pensarem que tenho um vídeo íntimo na internet. Eu sei que não dormi com você e você sabe disso também. Assumo que Greta Saxonby saiba que ela dormiu com você, mas vendo que não está preparada para dizer a verdade, espero que você esteja. — Baixei o olhar. — Ou minha vida ficará arruinada por algo que nunca fiz.

Ele se inclinou para trás, um sorriso presunçoso no rosto.

— E por que eu deveria?

Seu irmão lhe deu um olhar afiado.

— Não seja tão babaca, Caleb.

Fiquei surpresa com seu apoio e dei um sorriso fraco.

— E acho que os fãs do seu irmão gostariam de vê-lo fazer a coisa certa por uma mulher inocente — completou Stanley.

O sorriso presunçoso de Caleb caiu.

— Quanto você quer?

— Oi?

Ele se inclinou para frente, me encarando.

— Não estou dizendo que vamos te pagar, mas quanto dinheiro você quer?

— Não quero seu dinheiro! — rebato, ofendida. — Só quero que você diga a verdade.

Stanley me deu uma cotovelada.

— Preciso conferir com a minha cliente. — E diminuiu o tom de voz. — Não seja boba, garota! Você pode pagar suas dívidas estudantis, talvez até conseguir o suficiente para comprar a própria casa.

Eu poderia dizer que os irmãos ouviram cada palavra e um olhar estranho passou pelo rosto de Caden. Caleb parecia apenas entediado.

— Eu deveria estar com a minha esposa. Tentar salvar meu casamento. Preciso ligar para alguém.

Ele ficou de pé e saiu andando com o telefone em mãos.

— Ah, é? Bem, não é culpa da Gemma que você não consiga se manter vestido — Patty gritou em sua direção —, mas é a minha amiga que está pagando o preço!

— Caleb está pagando o preço sim — Caden disse, entredentes. — A esposa dele o jogou para fora.

— Ele merece — disparei, meus olhos brilhando. — Eu não!

Ele encarou os meus olhos, mas então seu rosto bravo suavizou ao me encarar.

— Preciso falar com meu irmão — disse, por fim. — Posso aconselhá-lo, mas não posso prometer nada.

— Vamos precisar de mais garantia do que isso! — falou Stanley. — Minha cliente não pode ir para casa, foi demitida do emprego e está seriamente preocupada sobre o impacto que isto terá em sua carreira no futuro. Você precisa mais do que aconselhá-lo, senhor Logan. Ele precisa falar a verdade.

Os olhos de Caden escurecem.

— Não acho que se lembra, senhor Cooper, que meu irmão não fez nenhuma declaração sobre a senhorita Parkinson. Nem Greta Saxonby. Então as únicas pessoas que você pode processar por difamação são os jornalistas, e não acho que terá muita sorte nessa… a menos que sua cliente tenha bolsos muito profundos.

Empalideci com a raiva em sua voz. Não era sempre assim que acabava? Pessoas ricas se safavam de tudo, e pessoas pequenas como eu tinham que pagar o pato. Lágrimas de raiva surgiram em meus olhos.

— Então você é tão bobão quanto o seu irmão idiota! — eu disse. — Carambolas, quem você pensa que é?

Ele piscou para mim, surpreso.

— O que você acabou de dizer?

— Não gosto de xingar — murmurei.

Seu sorriso foi breve e surpreso.

— Eu prometo que farei tudo que puder para limpar o seu nome. Mas não posso prometer o que Caleb fará. Sou seu irmão, não seu responsável.

Acenei, entendendo que o encontro tinha terminado.

Caden apertou minha mão.

— Vou reservar uma suíte para você no Ritz Carlton. Eles estão acostumados a lidar com repórteres, então você vai conseguir um pouco de paz por lá.

— Obrigada — disse.

— Sem problemas. — Sorriu. — Meu irmão fica lá quando está na cidade, então vai pagar. Parece justo.

— Muito justo. — Sorri de volta, envergonhada. — O que você acha? — perguntei ao Stanley, ao deixarmos os irmãos discutindo em voz alta.

— Caleb é um babaca, mas o irmão é gostoso — disse Diego, recebendo um olhar torto para o marido — e está totalmente afim da nossa pequena Gemma.

Rolei os olhos.

— Acha que ele vai fazer o Caleb dizer a verdade?

O sorriso de Diego se desfez.

— Acho que vai tentar.

Voltamos para a limusine, eu arrastando os pés por causa das calças de palhaço que fui forçada a usar. Boss voltou pulando e me encolhi quando ele lambeu meu rosto, mas pelo menos não tentou fazer xixi em mim de novo.

A suíte do hotel era maravilhosa e o melhor de tudo foi que pedimos serviço de quarto e nos empanturramos de uma comida fabulosa e um monte de coquetéis — sem álcool para mim, que ainda estava de ressaca e minha cabeça latejava tanto, que meus olhos estavam prontos para rolar pelo carpete grosso.

Duas horas depois, conforme deitamos em um coma sonolento de comida e lixo televisivo, houve uma batida na porta. Pulei da cama, espiei pelo olho mágico, depois abri. Caden estava parado lá. Estava com meu jeans em uma das mãos, lavado e seco, e um grande envelope no outro.

— Desculpe pelo seu jeans. — Sorriu. — Boss realmente gostou de você.

— Isso é… bom?

Ele sorriu, depois tirou uma folha do envelope.

— Tudo que você tem que fazer é assinar isso aqui e seus problemas somem.

— Espera, deixa eu ver — disse Stanley, apressando-se e lendo o contrato.

Seus olhos se arregalaram.

— Minha cliente aceita! — disse, empurrando a caneta para mim.

— Eu ainda não li — reclamei.

— Seu advogado leu e aprovou — Stanley rebateu, pomposamente.

Puxei dele e li cada detalhe.

— Cinquenta mil dólares? Ele vai me pagar e dizer que o vídeo foi feito com a Greta, não comigo?

Caden deu de ombros.

— O que posso dizer? Meu irmão é um babaca. Mas às vezes faz a coisa certa. Sinto muito que você tenha se envolvido na mer… hm, na bagunça dele.

Segurei a caneta, prestes a assinar, então li a cláusula final.

— Espera, diz que eu tenho que jantar com… você!

Encarei Caden, que sorriu para mim.

— Tive que colocar a cláusula. Não achei que você fosse dizer sim de outra forma, e realmente quero me desculpar pelo comportamento do Boss.

— Assine! — Patty falou, dando uma cotovelada com força nas minhas costelas.

Diego fez joinha com as duas mãos para mim e Stanley sorriu, encorajador.

— Tudo bem. — Suspirei. — Vou assinar.

Rabisquei meu nome no papel e Caden parecia muito feliz consigo mesmo.

— A propósito — começou —, você é mais bonita que Greta Saxonby. Boss nunca teria feito xixi na perna dela.

— Estou honrada?

Ele riu.

— De verdade, sinto muito por tudo que você passou, mas, no momento, estou meio feliz. Posso te ligar para falar do jantar?

Sorri, tímida.

— Tem certeza que quer jantar com alguém tão notável?

Ele me deu um largo sorriso.

— Você conheceu meu irmão, tive muita experiência. Te vejo em breve, senhorita Notável.