Barbara em Hollywood – Jane Harvey-Berrick

O Conto de Abril chegou trazendo uma história encantadora nos bastidores do cinema. Confiram abaixo e não esqueçam de comentar o que acharam.

Aposto que você gostaria de ouvir sobre o dia em que conheci Marilyn Monroe.
Claro, ela não era A Marilyn na época, mas apenas uma coisinha jovem e doce que tinha sido levada para Hollywood. Ninguém poderia prever que ela se tornaria a estrela que se tornou. Eu gostava dela — a maioria das mulheres não.
O ano era 1949, e eu tinha acabado de me casar com Thaddeus “Skip” Millington, o amor da minha vida. Eu o conheci na Inglaterra durante a guerra e teria ido para a América como esposa de militar se não fosse pelo infeliz fato de Skip já ser casado. Nosso crime foi nos apaixonarmos — ou talvez eu deva dizer que nosso crime foi agir de acordo com nossos sentimentos. De todo jeito, a esposa dele se recusou a dar o divórcio por nove longos e cansativos anos, e só quando ela mesma encontrou outra pessoa foi que Skip ficou finalmente livre. Nós nos casamos tranquilamente no dia seguinte.
Claro, foi tudo um grande escândalo porque ele era capitão dos fuzileiros navais dos Estados Unidos e, embora tenha sido promovido a major no final da guerra, sei que nosso affair impediu que sua carreira progredisse como deveria. Suponho que oficiais sejam responsabilizados por um código moral mais alto do que o resto de nós, meros mortais. Isso soa terrivelmente rancoroso, e eu não queria que saísse assim, mas Skip se sentiu culpado e a esposa dele, muito publicamente, pediu o divórcio com base no adultério. Às vezes, eu sentia que nosso amor não seria suficiente, mas amor vincit omnie. O amor conquista tudo.
Você deve me achar terrivelmente perversa, e minha pobre e querida mãe certamente pensa que sim. Ela tinha vergonha de sua única filha ter desfrutado de um flerte com um homem casado — e tenho que admitir que flertar com Skip era absolutamente maravilhoso. Minha mãe ficou ainda mais envergonhada quando me casei com um divorciado, o que era um conjunto muito estranho de padrões duplos. Ó, céus. Nunca fomos próximas. Provavelmente, era melhor que eu estivesse a um oceano e um continente de distância dela. Ah, bem, ela nasceu em um século diferente, então dificilmente eu poderia culpá-la.
Enfim, a base de Skip era em San Diego, o que significava que era onde eu morava também. Para uma jovem mulher de Londres, foi uma grande emoção viajar para a Califórnia. Eu adorava ir ao cinema, então foi tudo bem excitante, e esperava ver uma estrela de cinema a cada esquina. Era quase tão emocionante ver as palmeiras de verdade, e todo mundo tinha um carro brilhante tão grande quanto um barco, e telefones em suas casas com piscinas no jardim. Parecia o paraíso na Terra. Mas eu certamente aterrissei com uma pancada, porque era considerada uma pecadora pelas outras esposas e nunca era convidada para a base em nenhum dos eventos sociais, cafés da manhã, levantamentos de fundos, almoços ou viagens de compras. Ocasionalmente, quando eles simplesmente tinham que convidar Skip para um jantar formal, eu era aceita na Reunião dos Oficiais, mas nenhuma das mulheres falava comigo, e elas lançavam punhais com os olhos se algum marido errante se atrevesse a olhar na minha direção.
Então, uma vez que me despedi para o meu querido marido ir ao trabalho, fiz as camas e limpei nossa casinha, não havia muito mais para fazer. Honestamente, pensei que a guerra seria um avanço para as mulheres no quesito carreira, mas acabou por ser uma pequena gota em um imenso oceano de homens no comando. Assim que a guerra acabou e eles retornaram para casa, as damas foram empurradas de volta para a cozinha.
Eu estava acostumada a trabalhar e gostava disso, mas agora parecia ser incapaz de conseguir emprego.
Bem, simplesmente, eu estava sozinha.
Mas bastava um sorriso do meu amor e eu sabia que cada ato de desprezo e insulto tinha valido a pena.
Ah, você devia ter visto Skip na época! Tão bonito em seu uniforme, tão alto e forte, com olhos da cor do céu de verão, o cabelo loiro descolorido pelo sol. Ele parecia a estrela de um filme. E eu não era a única que pensava assim.
De todo jeito, para me animar, Skip sugeriu que fôssemos de carro para Los Angeles passar o fim de semana e fizéssemos todas aquelas coisas maravilhosas de turistas. Aqueles momentos tranquilos eram os melhores dias. Eu simplesmente adorava ter Skip só para mim sem um uniforme à vista.
Ficamos no Hollywood Roosevelt Hotel, que estava superlotado de atores e atrizes, e pessoas glamourosas tomando goles de coquetéis às nove da manhã. Não tinha percebido que Roosevelt tinha sido financiado por figurões de Hollywood como Louis B. Mayer, Mary Pickford e Douglas Fairbanks. Era terrivelmente chique e eu amei à primeira vista.
Também calhou de Joe Mankiewicz estar hospedado lá enquanto trabalhavam em um novo filme. Ele produziu um dos meus favoritos, Núpcias de um escândalo, e eu estava simplesmente morrendo de vontade de perguntar a ele sobre Cary Grant.
Joe era ursinho querido, nunca foi visto sem seu cachimbo, embora raramente o acendesse. Uma pena, porque eu gostava bastante do aroma do tabaco. Enfim, assim que ele viu Skip, veio até nós para apertar sua mão e perguntar sobre seu último papel.
— Acho que você me confundiu com alguém, camarada — Skip disse cordialmente. — Não estou no ramo da atuação.
— Então é um produtor, correto? Sei que o vi em algum lugar.
— Sinto muito — Skip lamentou, negando com a cabeça, seus olhos brilhando de diversão de um jeito que me deixou irremediavelmente melosa. — Sou apenas um tedioso fuzileiro naval dos Estados Unidos. Major Skip Millington, e deixe-me apresentá-lo à minha esposa Barbara.
Joe apertou a mão dele.
— Joseph L. Mankiewicz. Bem, agradeço por seu serviço, major, mas tenho que dizer que a vitória do país é uma derrota para Hollywood. Uma palavra! Eu poderia conseguir um teste de câmera para você assim! — E estalou os dedos gorduchos.
Skip riu.
— Não atuo desde meus dias de faculdade, então terei que passar.
— Tem certeza de que não posso te fazer mudar de ideia? O público iria querer devorar esse seu visual americano de colher.
— Uma atividade que eu prefiro reservar para mim mesma — interrompi, áspera.
Ele se virou para me olhar pela primeira vez, suas sobrancelhas grossas disparando para cima.
— Nossa, você é britânica! Este ramo sempre precisa de um sotaque britânico. Vocês são pura classe.
— Muito obrigada. — Sorri. — Tentamos dar nosso melhor.
Deu um sorriso largo para nós dois.
— Posso ver que meu discurso não está funcionando com vocês dois.
— Não somos nem atores nem atrizes, senhor Mankiewicz. — Sorri para ele. — Mas simplesmente devo dizer que amei Núpcias de um escândalo. Vi quatro vezes no cinema. É verdade o que dizem sobre Cary Grant?
— Depende de que rumor você ouviu.
— Ah, maravilha! Que ótimo! Pode me contar sobre todos eles, por favor?
Sorriu novamente.
— Bem, eu poderia contar uma história ou duas, mas o que acham de visitar o estúdio? Estou filmando um novo filme com Bette Davis, A malvada.
Voltei-me para Skip, empolgada com a ideia.
— Ah, querido, vamos! Parece divertido e eu nunca fui a um estúdio de filmagem.
— Claro — respondeu, com facilidade.
E então nos organizamos com Joe para visitar as instalações da 20th Century Fox no dia seguinte.
Eu adorava nosso Cadilac conversível vermelho-cereja e o clima da Califórnia — sol todos os dias. Uma baita mudança de uma Londres cinzenta e sombria, danificada pelas bombas com o racionamento e as filas intermináveis. Skip dirigiu com a capota abaixada por todo caminho até Century City, sul de Santa Mônica, e senti como se estivesse com meu próprio ídolo do cinema. Todos os dias, Skip me fazia sentir valorizada e amada.
Joe deixou nosso nome com o doce segurança na entrada, que nos disse onde estacionar.
O set de filmagem era como uma árvore de Natal, andaimes cheios de luzes, todas apontadas para o saguão do cinema de faz de conta.
Eu estava absolutamente empolgada ao ver Bette Davis entrar no set, um cigarro em uma das mãos e o roteiro na outra.
Joe acenou para que nos juntássemos a ele e nos sentamos em cadeiras de diretor. Eu me senti bem importante.
— Bette é tão profissional — disse, alegremente. — Sempre com o texto na cabeça. Não… na ponta da língua. Ela é o sonho de um diretor: a atriz preparada.
— Sempre ouvi dizer que ela era difícil — sussurrei.
Ele deu de ombros.
— Apenas porque é muito boa. Mantém a todos no mesmo padrão. Ela pode ser dura.
— O que está acontecendo nesta cena? — Skip questionou.
— Temos a Bette interpretando Margo Channing, uma atriz mais velha…
— Ela tem 41 anos! — disse, mal-humorada.
Eu era um pouquinho sensível com aquele assunto, já que cheguei à idade avançada de 30 anos antes de levar Skip ao altar.
— Sim, Bette está passando um pouco da idade para Hollywood — respondeu, sem nenhum traço de ironia. — E temos Anne Baxter interpretando Eve Harrington, uma atriz que praticamente assumiu seu papel como uma grande estrela. — Abaixou o tom. — É bom Bette e Anne se entenderem ou poderia haver explosões, já que Anne ficou com o papel principal.
— Minha nossa, sim! — disse, ouvindo avidamente.
— Então temos George Sanders como um importante crítico de teatro, Addison DeWitt; e uma garota nova… hm, Marilyn alguma coisa. É apenas uma pequena participação. Ela tem sorte de ter um papel com falas, se me perguntar.
Acho que ele teria dito algo ainda mais indiscreto, mas um dos jovens assistentes interrompeu, então nos sentamos para apreciar a cena.
Bette parecia maravilhosa em um vestido de coquetel preto de seda, tão pequenininha, pouco mais de um metro e meio; suas sobrancelhas arrogantes se ergueram e a boca desdenhosa se inclinou para baixo. Anne Baxter estava adorável de veludo azul-marinho, e George Sanders parecia muito distinto em seu traje noturno, o lenço de bolso dobrado com exatidão.
Fiquei surpresa ao ver uma jovem maquiadora correr para passar um pouco de pó em sua testa.
— As luzes no estúdio são quentes — explicou Joe. — Faz todo mundo transpirar loucamente. Ao final de um longo dia, todos ficamos cozinhando aqui.
— Fascinante — falei, um pouco chocada.
E então uma quarta pessoa entrou andando no set. Eu disse “entrou andando”, mas deveria ter dito “entrou deslizando”; parte anja, parte amazona, mas totalmente feminina.
Até Skip se endireitou, então sorriu para mim e apertou minha mão.
— Prefiro as morenas — garantiu.
— Espero que sim! — falei, mas meu olhar ficou na deusa loira.
Seu vestido era cor de champanhe com um baita decote que ela preenchia com perfeição. Usava luvas de noite até os cotovelos que combinavam com o vestido, e um casaco branco de pele de raposa. Parecia alta ao lado de Bette e Anne, seu rosto tão jovem, amável e novo. Seus lábios pintados de vermelho faziam beicinho naturalmente, e ela tinha uma bela pinta acima da boca — uma imperfeição em outras mulheres, mas não nela.
Mulheres assim faziam o restante de nós parecermos fazendeiras, plantadoras de batata. Eu não tenho nada contra plantadores de batata — já fui uma; só quis dizer que sua beleza estava em tamanho nível, que nós éramos meros camponeses em comparação.
Mas então notei algo: suas mãos estavam tremendo.
Por baixo da beleza e do glamour, a pobre criatura estava totalmente aterrorizada.
— Posições, todo mundo! Em suas marcas — um dos assistentes gritou.
Joe se inclinou para frente, sua atenção subitamente aguçada conforme o ator e as três atrizes se moviam nos lugares, onde pedacinhos de fita Scotch tinham sido colocados no chão.
— Câmera rolando… cena do saguão, tomada um… ação!
A claquete se fechou e Bette falou primeiro, suas palavras saindo como um chafariz cintilante.
— Eu me lembro claramente, Addison, de te riscar da minha lista de convidados. O que está fazendo aqui?
— Margo, deve se lembrar da senhorita Caswell.
— Não me lembro. Como vai?
— Nós nunca nos conhecemos. Talvez seja por isso.
— Corta! — chamou Joe. — Marilyn… você precisa sorrir mais. Está empolgada para conhecer a grande Margo Channing. Você é fã dela!
— Sinto muito, senhor Mankiewicz — pediu, suas bochechas enrubescendo por ser corrigida.
— Câmera rolando… cena do saguão, tomada dois… ação!
— Eu me lembro claramente, Addison, de te riscar da minha lista de convidados. O que está fazendo aqui?
— Margo, deve se lembrar da senhorita Caswell.
— Não me lembro. Como vai?
— Nós nunca nos conhecemos. Talvez seja por isso.
— A senhorita Caswell é formada pela Copacabana School of Dramatic Arts. Ah, Eve!
— Boa noite, senhor DeWitt.
— Corta! — Joe chamou de novo. — Marilyn, querida. Pare de se mostrar tão assustada. Aja com animação.
— Sinto muito, senhor Mankiewicz — pediu, sem ar.
Ele murmurou algo baixinho.
— Câmera rolando… cena do saguão, tomada três… ação!
— Não fazia ideia de que vocês dois se conheciam — disse Bette, sua personagem agindo bastante presunçosa.
— Devemos ter nos visto de passagem — disse Anne Baxter, totalmente no controle de si e de suas falas.
— Foi como nos conhecemos — completou Marily. — Pessoalmente.
— Corta! — Joe berrou.
— Essa fala é “de passagem”, não “pessoalmente”!
Marilyn abaixou a cabeça e se desculpou de novo. Skip me lançou um olhar.
— Câmera rolando… cena do saguão, tomada quatro… ação!
— Devemos ter nos visto de passagem.
— Foi como nos conhecemos — disse Marilyn. — De passagem.
A cena pareceu boa para mim, mas Joe os fez refazer mais três vezes e Marilyn confundiu suas falas em todas elas.
— Meu bom Deus, você leu o roteiro? — Bette questionou, fria.
— Sim! Sim, eu li — Marilyn respondeu, impotente.
— Então tente dar a fala correta no momento correto — Bette retrucou.
— Câmera rolando… cena do saguão, tomada oito… ação!
— Então vocês dois devem ter uma longa conversa — a personagem da Bette disse para Anne Baxter, uma grande dama que lhe concedeu um favor.
— Temo que o senhor DeWitt me acharia tediosa se conversarmos muito — Anne Baxter disse, ingênua.
— Você não vai entediá-lo, querida — garantiu Marilyn, como a senhorita Caswell. — Você nem terá chance de falar.
Bati com a mão na boca e ri. Ela era engraçada. Que timing maravilhoso para comédia. Porém, mais uma vez, Joe gritou “corta”, dizendo que ela deu a fala rápido demais.
A tomada seguinte foi lenta demais, e todos conseguimos ver que a irritação de Bette Davis estava aumentando. Anne Baxter e George Sands simplesmente continuaram graciosamente, sem depreciar Marilyn nem apoiá-la.
— Já esteve em um estúdio de filmagem? — Bette perguntou, impaciente.
Os lábios dela tremeram.
— Sim, senhora. Mas apenas uma vez.
Bette apertou os lábios um no outro e jogou o cabelo.
— Então tente acertar as falar ou sua segunda aparição poderá ser a última — Bette ladrou.
Skip fez uma careta e tive que concordar. Assistir a essa pobre jovem fazer tomada após tomada era como ver um carro bater em câmera lenta. Tive que assistir à décima primeira por entre os dedos e prender a respiração, até Joe gritar:
— É isso aí. Salve. Muito bem a todos. Cinco minutos.
Marilyn deu um sorriso vacilante e Bette e Anne conversaram baixinhos juntas, George Sanders acendendo um cigarro. Ela ficou parada lá por um momento, sozinha e sem amigos, então subitamente disparou para fora da sala.
— É melhor dar uma olhada nela — Skip sussurrou para mim.
Ergui as sobrancelhas, mas fiz o que ele pediu. Eu suspeitava que ele era um em uma longa fila de homens que sentiam a necessidade de proteger a pequena Marilyn. Não era culpa dela — gritar com a jovem era como gritar com Bambi.
Eu a segui para fora do estúdio, os cristais em seu vestido brilhando no sol conforme ela cruzava apressadamente o espaço empoeirado até o lavabo feminino.
Pela porta fechada, eu a ouvi vomitar e me senti muito mal por ela. Marilyn apareceu poucos minutos depois, seu rosto corado e olhos vermelhos, a tristeza em seu rosto se transformando em horror ao perceber que a ouvi.
Seu olhar caiu para o chão e ela lavou a boca conscientemente, enfim se virando para reconhecer que eu estava lá.
— É que eu fico tão nervosa — justificou. — Eu odeio.
Apertei sua mão, simpaticamente.
— Eu entendo, querida, mas por que fazer isso se odeia?
— Porque… porque… eu amo também! — garantiu, os olhos acendendo com uma empolgação infantil. — Quando eu era pequena, não gostava do mundo ao meu redor, porque era meio sombrio. Algumas das minhas famílias adotivas costumavam me mandar para o cinema para me tirar de casa e eu ficava sentada lá o dia inteiro e parte da noite. Lá na frente, naquela tela enorme, uma criancinha solitária, mas eu amava. Quando ouvi que aquilo era atuar, eu disse que era o que eu queria ser. — Deu de ombros. — Então aqui estou. Sei que sou terrível…
— Você não é terrível! — rebati, rapidamente.
— É muito gentil da sua parte dizer isso, mas sei que sou.
— Não mesmo. Você, na verdade, é bem engraçada, com um timing perfeito para comédia.
Seus olhos se arregalaram.
— Sou?
— Sim. E, com um pouco mais de confiança, tenho certeza de que se sairá maravilhosamente bem.
Fiquei bem surpresa quando ela jogou os braços ao meu redor e me abraçou apertado.
— Obrigada, senhora — disse. — Eu agradeço muito.
Ela conferiu o batom, depois deslizou para fora do lavabo, sua cabeça erguida.
Que lugar estranho era Hollywood — uma terra onde tudo na tela era falso e nada era real. Fiquei muito feliz por não ser uma atriz.
Caminhei de volta até Skip, mergulhada em pensamentos.
— Tudo bem? — questionou.
— Pobre menina — comentei, negando com a cabeça. — Ela disse que ficou em lares adotivos. E acho que ela é solitária.
Joe interrompeu o que quer que Skip estivesse prestes a dizer.
— Ei, vocês querem ser figurantes no fundo? Não precisam dizer nada; estamos filmando uma cena de público a seguir.
Skipe deu um grande sorriso para mim e assentiu.
— Claro, por que não?
Parecia que eu estava prestes a me tornar uma atriz por um dia, afinal.
Ao dirigirmos de volta para Roosevelt, felizes e cansados, Skip ligou o rádio em uma estação de notícias. Foi um dia tão emocionante, e nós ainda tínhamos que tomar banho e nos vestir para o jantar com Joe e outro produtor do filme.
Ao pararmos no estacionamento cheio de palmeiras do hotel, pegamos o fim do anúncio do rádio sobre Kim Il-sung encontrar Stalin.
— Quem é Kim Il-sung?
— O primeiro-ministro da Coreia do Norte — Skip respondeu, sombrio.
— Coreia? O que está acontecendo na Coreia? Por que ele está visitando Stalin?
— Há bastante tensão por lá, ações de guerrilha na fronteira.
— Meu bom Deus, claro que não há! O mundo não está cansado de guerra?
— Era de se pensar que sim. Mas algo está se formando.
Eu não sabia na época quão proféticas eram suas palavras ou o quanto o conflito coreano viria dominar nossas vidas.
Skip abriu a porta do Cadillac e me ajudou a entrar.
— Coreia: fica no Paralelo 38 N, não é?
Skip riu.
— Fica. Alguém poderia pensar que você trabalha para o governo britânico como espiã.
Eu ri.
— Nunca fui espiã, como você bem sabe.
— Não, apenas fazia algo bem secreto — disse, tocando o nariz.
Ignorei sua provocação.
— Alguém deveria escrever um livro, um suspense, e chamar de O Paralelo 38 N.
— Você deveria escrever, senhorita Espertinha.
— É senhora Espertinha para você, major Millington.
Ele me deu seu largo sorriso e me puxou para um beijo hollywoodiano.
— E não se esqueça: senhora Millington.
— Nunca. — Suspirei, perdida na efervescente alegria de estar nos braços deste homem.
Tivemos um dia maravilhoso em Hollywood, um sinal de pontuação em nossa felicidade.
E a senhorita Marilyn Monroe, bom, nunca mais a vi.


Espero que tenha gostado deste passeio por Hollywood em 1949. A malvada foi um sucesso comercial. Inventei os comentários de Bette Davis sobre Marily Monroe, mas é verdade que durante uma cena, que teve onze tomadas, Marilyn vomitou de nervosismo.
O filme estreou em 1950, o mesmo ano em que a Guerra da Coreia começou.
Se você gostou dos personagens Skip e Barbara, pode encontrá-los no meu romance de linha do tempo dupla, The Lilac Cadillac.

©Jane Harvey-Berrick